Biblioteca

Cliente: Câmara Municipal de Setúbal
Estado: Concurso
Localização: Setúbal, Portugal
Área: 2800 m2
Data: Abril de 2013
Tipo: Biblioteca

Detalhes

INTRODUÇÃO

A especificidade programática de uma biblioteca é, por si só, um desafio. As novas tecnologias, ainda que não tenham tornado o papel do livro obsoleto, obrigam a repensar as implicações do que é uma biblioteca?

Para que serve?

Como se utiliza?

Propor um edifício para um local tão visivelmente destacado no seu entorno urbano torna esse desafio ainda mais aliciante. O Largo José Afonso é, muito provavelmente, o grande momento de pausa na malha urbana de Setúbal.

É um espaço de transição entre a cidade e o mar.

Um espaço de circulação e um espaço de pausa.

A proposta que apresentamos pretende enfrentar estes problemas, conceitos e uma mistura de novas e velhas realidades.

É um desafio, mas se não o fosse não teria tanta graça.

IDENTIDADE ARQUITETÓNICA

A nossa proposta fundamentou-se de um pressuposto básico, o qual está contido no programa preliminar: o de que a identidade morfológico-arquitetónica de um edifício de uso marcadamente público deve destacar-se da envolvente como tal. Neste contexto, procuramos estabelecer um proposta com uma linguagem arquitetónica contemporânea e que acrescente valor ao contexto urbano.

A imagem da nossa proposta evoca um livro aberto – o elemento marcante de uma biblioteca. A implantação e planta tipo baseiam-se num triangulo isósceles com um vértice a 90o o qual (como se verá de seguida) tem relações fortes com a envolvente urbana.

A partir deste preambulo, estabeleceu-se uma matriz de eixos de composição paralelos às faces do triangulo que formam e definem não apenas a configuração espacial e organizativa, como também a grelha estrutural do edifício. Neste sentido, e pela sua forma inerente, um eixo de simetria confere uma maior introspeção e centralidade dos espaços assim formados.

Neste contexto, o edifício pretende um misto de enclausuramento e abertura ao exterior. O equilíbrio entre estes dos princípios opostos é conseguido pela casca exterior do triangulo, em si mesmo cega mas interrompida por caixas (também elas triangulares) de vidro que se salientam do volume principal e criam espaços que, embora de menor dimensão – e por isso mais reservados – proporcionam também momentos de uma maior abertura e relação com a envolvente urbana.

A intenção de criar um espaço plurifuncional que permita simultaneamente momentos de estudo e descanso, cultura e lazer, abertura para o exterior e introversão contemplativa. A flexibilidade dos espaços

As salas de leitura são amplos open-space organizadas modularmente pela marcação dos elementos estruturais.

Átrio e salas de leitura (secção de adultos e secção infantil) estão sobrepostos e ligados espacialmente pelo seu pé direito. Aqui um grande vazio central cria relações visuais com o piso inferior e confere ao espaço uma dimensão arquitetónica distinta. para além de inundar o espaço com luz proveniente das claraboias na cobertura.

IMPLANTAÇÃO E ENQUADRAMENTO URBANO

A localização estratégica do Largo José Afonso, bem como o seu enquadramento urbano geral, preexistências, envolvente e condicionantes, foram alvo de especial atenção na definição da implantação e forma do edifício proposto. Assim, procurou-se implantar a biblioteca fora das delimitações dos elementos protegidos de modo a salvaguardar os mesmos.

Tendo sido alvo recente de intervenção urbanística, ao abrigo do programa Polis, parece-nos desmesurado intervir profundamente na configuração do Largo José Afonso, dado que o mesmo possui neste momento uma qualidade e identidade urbana própria, embora subaproveitadas. Assim, consideramos que bastará uma pavimentação das áreas atualmente em terra batida o que, em conjunto com a implantação da biblioteca, valorizará o largo e o seu entorno.

A opção de implantar o edifício em localização mais distante da Av. Luísa Todi coloca-o numa das zonas menos ruidosas do largo e não requer alterações substanciais às redes existentes de distribuição e drenagem de águas e iluminação exterior. O mesmo aplica-se às arvores e equipamentos urbanos instalados, os quais, por via da nossa proposta, poderão ser mantidos quase na sua totalidade.

Outro elemento que se tomou como relevante foram os fluxos de circulação pedonal. As circulações diagonais que seguem o alinhamento do pórtico do auditório exterior, bem como a alameda de árvores a poente do Largo definiram, a grosso modo, os limites da edificação.

Semelhantemente, está prevista a implantação a grosso modo de uma possível futura ampliação da Biblioteca. Esta localizar-se-ia em espaço próximo (embora não contíguo), com a circulação entre os dois volumes a ser realizada por meio de passadiços no primeiro e segundo pisos. Deste modo, continuam salvaguardadas a orientações espácio-funcionais definidas para o largo.

Por outro lado, em relação à opção para a localização do edifício de estacionamento, considera-se que a introdução de um outro grande volume edificado na proximidade da biblioteca e no centro do Largo desvalorizaria os mesmos e diluiria substancialmente a sua identidade como espaço privilegiado de estar. Complementarmente, considera-se que além de existir atualmente um bom número de lugares de estacionamento à face da rua, é ainda possível aumentar a sua capacidade introduzindo cerca de 40 lugares na face poente do Largo – o que envolveria um custo de intervenção significativamente reduzido e com um efeito idêntico ao requerido no programa preliminar.

Assim, propomos que o edifício de estacionamento seja localizado na zona de estacionamento existente a Norte do edifício do Instituto Português da Juventude. Deste modo, será possível aproveitar este espaço de contorno e libertar a área do Largo de uma segunda intervenção.

Compreendemos que, dado que se pretende que este estacionamento (cuja construção é ainda incerta) seja para uso da biblioteca, preferir-se-ia uma localização mais próxima da mesma. No entanto, pelo exposto consideramos que esta alternativa é a que mais valoriza o espaço e a cidade.

Deste modo, pela sua localização estratégica, o Largo José poderá manter e reforçar a sua identidade como praça urbana, melhorando a sua capacidade de alojar eventos de grande porte e também como zona de lazer e descanso.

ORGANIZAÇÃO INTERNA E FUNCIONALIDADE

A funcionalidade dos espaços e a forma como se relacionam foi o elemento caracterizador da organização programática da nossa proposta. Os percursos de circulação foram reduzidos ao mínimo por via de uma organização centralizada em torno de um grande espaço que ordena e relaciona os diferentes pisos e funções do programa, tanto visualmente como ao nível da circulação vertical e da entrada de luz zenital.

O átrio de entrada no piso térreo assume-se como o grande espaço distribuidor e organizador de onde se acede diretamente a quase todos os espaços do edifício proposto:

  • No piso térreo, para além do balcão de atendimento, destacam-se as relações diretas com a cafetaria e o auditório multiusos, embora neste piso seja possível ainda aceder às instalações sanitárias e espaços destinados a depósito e administração (os quais podem também ser acedidos por uma entrada secundária localizada a Nordeste. A localização do auditório permite o seu funcionamento autónomo, mesmo em horas de fecho dos restantes serviços, podendo usufruir dos sanitários públicos e do bar.
  • A partir do piso térreo desenvolve-se um sistema de escadas simétricas que une simultaneamente os primeiro e segundo pisos, além de um elevador panorâmico que permite ligar verticalmente todos os pisos do edifício.
  • O primeiro piso é ocupado, na sua larga maioria, pela secção de adultos a qual se articula tanto como o átrio como com a secção infantil no piso superior.
  • O segundo e último piso é composto pela secção infantil. Existe uma relação visual com o piso inferior que reforça a unidade da composição espacial. Esta unidade é simultaneamente funcional porque se ligam dois espaços sobrepostos e de uso idêntico e simbólica porque pretende romper com as delimitações comuns entre espaços de adultos e espaços infantis, ao mesmo tempo que assume que uma grande parte das crianças que visitam as bibliotecas o fazem na companhia dos seus pais, os quais poderão assim encontrar um espaço comum de lazer de educação. Também estão previstas instalações sanitárias especificas para crianças neste piso.
  • As áreas destinadas a depósito e administração dividem-se pelos três pisos e têm acesso direto a partir do espaço central ou por via de circulação interna própria. Deste modo, existe uma relação mais direta entre os espaços de serviço interno e os do domínio público, o que facilitará o atendimento e funcionamento geral da biblioteca. Um elevador de serviço também está previsto de modo a facilitar a circulação vertical de pessoas e equipamentos de e para os depósitos, bem como na sua relação com as salas de leitura.